Todos os dias levanto, tomo meu chá e degusto minha respiração de ser vivo.
Me completo com o Sol ao tocar minha face no caminho do serviço... belo trajeto!
Percebo um nada abrindo-se diante de mim no retorno.
Sei seu nome, suas batidas, seus olhares, suas faces... criatura.
- És só meu, ele diz. Descarado, ele é.
Ele é a soma de 365 dias numa única costa.
Várias luas e amanheceres.
Muitas verdades falsas, mentiras cuspidas na face que se faz oculta para não rir nem chorar.
Dá calafrios quando tudo isso é o tudo, e o nada é nem mesmo o nada.
Vejo aqueles então:
O primeiro, de olhos relva, um olhar (que agora sei) triste, mas que na verdade, é simplesmente um receio pavoroso... - olha para ter certeza que o perigo já está longe, ou que ele nem seque o tenha olhado.
O segundo, de lábios e fala mansa, mergulha qualquer fala num turbilhão, na redoma de suas piadas e desgraças. Brinca e pensa que jogo seu jogo sem saber que estou consciente de o estar. Palhaçadas, nem amigo, nem bobo. Apenas um sem nada na vida a não ser ser nada para alguem. Alma fraca achando-se sobrehumano.
A terceira, víbora de brilho dourado, serpente que tenho o cuidado de encarar, e domá-la. Detesto repteis! Não fala muito. Diz o que lhe convêm, segrega apenas o que todos querem ouvir e saciar-se, esta sabe bem como preparar o campo para ser vítima de tudo, destrói todos para crescer.
O quarto, braços de chumbo, acha que a paciência é algo comprável. Não tem muito, e o que tem desdenha. Não sabe o que fazer, para um viandante está sem dúvida mais perdido do que os heróis no labirinto. Ainda não achaste nem mesmo a si próprio, não encontrou nem mesmo o outro braço.
Quatro em 365 girando como a Terra em relação ao Sol.
É cansativo...
Preciso de melodias novas para caminhar num caminho tão cheio de espinhos e disparos.
Mas estou certo..., como o amanhã será amanhã...
Sobrevivo, e sobrevivi mais e mais... vou crescer muito mais.
Agora vou descansar, uma bela noite de sono deve curar isso.
Deve acariciar aquilo que precisa de carinho.
Um rosto marcado pelo tempo, mas imortal nos sentidos.