"Continuarei a viver, mas nunca te esquecerei, meu pequeno PINGO, meu pequeno amigo." |
Não sei como esse final de ano pode iluminar meu finalzinho de dezembro depois do que aconteceu.
Preciso esconder isso, fazer de conta que superei... mas não será algo fácil.
Não haverá como nem mesmo haver um dito de perdão, talvez ele não entendesse.
E o pior, aqueles latidos de dor, gritos à procura de socorro não saem da minha cabeça.
Certamente, caro leitor, já sabe de quem estou falando, e dirá: - Amanhã você vai esquecer tudo, a vida continua!
Embora sejam palavras com ar de verdade, nem sempre há ar para elas fluírem à verdade.
Eu sei que é um cachorrinho, 12 anos e meio de vida comigo.
Me lembro do dia que ele veio, do medo dele se machucar perto do meu cachorro maior.
Era pretinho, uma bolinha de carinho e busca da mãe que lhe foi tirada tão cedo, dois meses apenas.
Contudo, leitor, ele significou e significa, e significará muito na minha vida.
Tudo significa, o vazio é só uma desculpa para empurrar as memórias para uma linha do espaço entre a memória a longo prazo e a memória a curto prazo.
Mas eu não irei deixar sua memória lá, não serei tão leviano assim.
Não me dou esse direito de ser humano, não hoje, não com meu velho amigo.
Fiel até o fim, veio nos seus último passo, cabaleantes até a porta de casa.
E sem forças, deitou-se para não levantar mais.
Era tanta dor naquela carinha já idosa.
Não sabia se sentia raiva do acidente, se sentia raiva da minha falta de cuidado ou se me sentia mal por não poder fazer nada mais do que passar a mão no seu pelo tentando amenizar a dor do fim.
E ele sentiu dor, tanta dor que não consigo esquecer... isso me perturba... reverbera.
Eu me sinto culpado, ele já idoso, com seus problemas, foi de fato, um pouco deixado de lado, os novos, adulados e mimados foram feito de casa para casa, e ele sempre dormia lá fora.
No frio, mesmo no seu cantinho quente e acolchoado, ele não estava conosco, aqui dentro.
Foi meio esquecido, deixado de lado...
E as ranzinzices com os mais novos, só mostrava uma coisa, dura coisa, a vontade de ver a atenção que devamos a ele de volta.
O dias em que ele subia no sofá e deitava-se no meu colo olhando nos meus olhos, satisfeito e feliz.
Amor puro e condicional, sem querer algo em troca. Amor verdadeiro, verdadeiro de cachorro.
O animal... não, o membro da minha família, mais pessoa do que muitas pessoas que conheci... e me esqueci dele.
Seus momentos mais felizes, eram as "voltinhas" à tarde.
Esses passeios curtos, muito curtos como eram antigamente em minha cidade natal, uma cidade pequena e pouco movimentada, fazia do seu cansaço alguma felicidade.
Ele sentia o mundo, cheirava, deixava seu cheiro, sua marca a seu jeito de ser... comportado... passo a passo, pegada por pegada na lama ou na terra.
Ele não latia, rosnava... simplesmente obedecia, uma obediência, não por medo, ele sabia que comigo, não haveria gesto maldoso.
Uma confiança em sair, e eu em deixá-lo sair. Minha confiança, tola, diga-se de passagem, confiança em seus anos de experiências, terminou hoje.
Com aquela cena horrível, com aquela motocicleta passando por cima do meu cachorrinho.
E eu que sempre acompanho animado com a animação dos três... agora não sei se consigo sair novamente, por em risco meus pequenos amigos, meus dois amigos.
Quando eu me lembro de que ele se arrastou para chegar em casa, na sua casa... para mim e para minha mãe pedindo que acabassemos com aquela dor... isso me mata por dentro.
É tanta impotência. É tanta raiva de mim mesmo.
E o fato de amanhã eu não o ver mais, me chamando para sair, me acordando quando durmo até tarde, me faz sentir um vazio... uma culpa... uma dor que não quer passar.
Eu queria o poder de mudar isso. Não sei que lição a vida me pregou hoje as 18 hras da tarde de 18 de dezembro de 2014, mas sei que terá repercussões, afinal,eu estou vivo...
Eu sei, vários dos que lerem isso, pensaram pouco de mim.
Pois que pensem, minha dor é minha, meu egoísmo em sentir a dor que ele sentiu é a minha prova, a prova de que não acompanho meu tempo insensível pois aprendi a ver as cores e as pequenas coisas fora da grande trama do mundo atual.
Me pergunto, como vou dormir hoje com tranquilidade.
Juro que meu coração doe, chora...
Quando vi ele naquele caixa, seu caixão improvisado, tenho a sensação de que ele vai se mover, erguer a cabecinha pra fora e latir.
Quase não consegui deixar seu corpo naquele lugar frio.
Longe de todos... me sinto mal por deixá-lo lá.
Queria agora, à meia noite, voltar lá, e buscá-lo no colo para casa.
Entretanto, eu sei que isso é meu desejo, e não a realidade.
Ele se foi...
Tenho que aceitar isso!
Preciso aceitar isso!
E a única coisa que consigo pensar agora, nem estudar, nem ler... nem encontrar alguma forma de jogar esse sentimento para o lado da consciência e deixar lá até ele se desfragmentar nos acasos.
Se sou medíocre comigo mesmo, não sei se isso deva ser um juízo de valor de mim para mim mesmo.
Sei que meu Pingo... meu caro Pingote... meu pingo de paciência... meu pingo de carência... meu pingo ranzinza se foi... mas quero ter um pingo de esperança... sei que essas lágrimas vão acabar uma hora... o tempo tem essa mágica, fazer elas secarem, e a vida correr como se isso fosse um doce devorado a todo segundo até ficar enjoado dele.
Eu só sei de uma coisa, descase PINGO... se houver um céu para os cachorros, sei que você estará lá.
Seu pequeno coração, foi tão grande quanto o melhor dos humanos que eu conheci nessa minha vida.
Pena que tudo da vida dura tão pouco.
Vá em paz amigo.
Sejas o PINGO de esperança de nosso amanhã... sempre que seu nome for lembrado ou dito por acaso.
Obrigado, e desculpe-me!
ADEUS PINGO!
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